Hoje no JN, o caderno “Dinheiro Vivo” dedica duas páginas à “análise”
do fenómeno desportivo em Portugal. Segundo a jornalista Sónia Santos Pereira
que se terá munido de dados do Eurobarómetro de 2017 da União Europeia traz à luz destas páginas o facto de que apesar das “inúmeras maratonas e meias
maratonas, corridas em trilhos, caminhadas nas serras ou desafios de ciclismo,
apesar de ser raro um fim de semana que não haja um evento que reúna dezenas e
dezenas de praticantes, apesar de ser raro o dia em que não nos cruzemos com um corredor de fundo ou
um ciclista, a ideia que os portugueses estão rendidos ao desporto é uma mera
ilusão”, cito!
E isto porquê? Porque segundo os dados do Eurobarómetro
apenas 5,4 da população faz exercício em ginásios (cerca de 540 mil pessoas) e
ficamos apenas acima da Grécia e da Bulgária.
Lendo isto, eu que não sou adepto de ginásios, ou dizendo
melhor, não considero fundamental ter de pagar ao ginásio para me exercitar,
embora pratique exercício físico regularmente, sou obrigado a concluir que o
Eurobarómetro não me “conhece” e portanto sou considerado um dos restantes 68% de portugueses que tem uma vida sedentária, segundo a mesma estatística.
Tudo isto perante a indignação do Presidente da Associação
de Empresas e Ginásios e Academias de Portugal. De referir que este Sr.
Presidente advoga taxa “zero” de IVA para os ginásios e tem apelado repetidamente
à sensibilização do governo para esta matéria onde é secundado pelos
administradores das várias cadeias de ginásios existentes em Portugal. Tudo em
prol do desporto, claro. E também da saúde dos portugueses.
Isto deixou-me a pensar, num país em que quem quiser
adquirir um par de sapatilhas decente, tem de desembolsar mais de uma centena
de euros sem que ninguém se importe com o praticante que as paga nem com a taxa de IVA
aplicada à generalidade dos materiais desportivos, como pode ser considerado o IVA dos
ginásios o entrave principal à prática do desporto pelos portugueses? Mais, no
mesmo caderno do Dinheiro Vivo esta notícia convive “paredes meias” com outras
que noticiam que o orçamento de estado para 2019 vai ter o terceiro maior ajustamento da
zona euro, ou que agravamento previsto para o crédito ao consumo vai penalizar
imensamente os consumidores, ou ainda, numa critica directa, que os portugueses
necessitam de rapidamente adquirir hábitos de poupança.
Num país em que a maioria dos portugueses tem dificuldade em
ajustar o orçamento pessoal para pagar prestação ou renda de casa, despesas com água,
luz, comunicações e automóvel, deixando pouca margem para mais alguma coisa,
parece-me a mim, que não vou ao ginásio mas que pratico desporto regularmente,
que reduzir ou anular o IVA sobre os materiais desportivos seria melhor
incentivo do que alimentar as cadeias de ginásios que mais não são do que um negócio
que gera milhões de euros de lucros. Não me incomodam, respeito-as, têm o seu espaço na sociedade,
muitos seguidores, mas ninguém me venha dizer que são um serviço público. Quem
me quiser ver a praticar desporto, pode ir até Valongo à Serra de Santa Justa,
a Caminha á serra d’Arga, passadiço de Leça da Palmeira, Parque da Cidade, Ecopista do Rio Minho e tantos outros espaços ao ar livre que acrescentam valor
ao exercício físico pela beleza das paisagens e pelo ar fresco da natureza.
Eu, não preciso de pagar mais para fazer exercício frequentando
um ginásio, preciso é de pagar menos pelos equipamentos para continuar a
praticar, se puderem reduzir alguma coisa a isso, obrigado. Ah... já agora
informem o Eurobarómetro que o fenómeno desportivo tem vida para lá das paredes
dos ginásios.
Em pleno treino na Serra do Gerês. |
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