Hoje o meu plano de treino aconselhava fartlek de 50’ em terreno
variado e acidentado. Lembrei-me de fazer uma visita ao trilho Valongo-Couce, afinal
variado e acidentado era mais ou menos aquilo. Assim que saí do trilho inicial
e cheguei á estrada junto ao rio Ferreira o espectáculo não podia ser mais
triste. Os matizes de verde e castanho da vegetação tinham sido substituídos pelo
negro assassino. O cheiro acre a queimado inundava o ambiente e o silêncio era
imperial. Habituado a escutar os passaritos quando por ali passava não podia
estranhar mais aquela quietude. Toda a serra para a direita da estrada estava
queimada e a pequena vertente entre a estrada e o rio também. A água parecia
preta, talvez por reflectir a terra queimada, como se o rio se associasse ao
luto daquela terra que se habituara a ver pintada de verde. Hoje a sua água
escura a escorregar pelas pedras do leito já não me inspirava os pensamentos
poéticos do costume, mais parecia um longo lamento pela triste sina dos seus
amigos pinheiros… dos seus amigos eucaliptos. Passarão décadas até que que
novas arvores possam atingir a dimensão daquelas que ali morreram. E de quem é
a culpa? – Daqueles caminhantes de mochila às costas ou de máquina fotográfica na
mão que por ali me habituei a ver não é, daqueles casais que ao domingo por ali
passeiam de mão dada também não será. Do pessoal das cordas que gosta de
escalar as paredes rochosas também não acredito, do pessoal das bikes, dos
escuteiros, não… -Daqueles que como eu apreciam o ar puro da serra e por ali
correm a plenos pulmões? – Não…
A culpa é daqueles a que chamarei de IMPUNES. Os IMPUNES que
queimam Portugal de lés a lés todos os anos. É lamentável como apesar da
degradação que nos é imposta ano após ano na mancha florestal, não existem
condenados, não existem manchetes nem nos jornais nem nas televisões sobre uma
condenação. Somos realmente um país de contrastes, contrastes entre coisas muito
boas e coisas muito más. E se há realmente alguma coisa em que somos realmente
miseráveis, é a proteger este património florestal, e não só, já que algumas da
zonas queimadas se inserem em plenos Parques Naturais. Ninguém consegue deter
estes IMPUNES, nem a GNR , nem a Polícia Judiciária, nem as Tropas Especiais,
nem as Não Especiais, nem os F16 da Força Aérea, nem a Fragata Bartolomeu Dias
com os seus misseis, nem as Brigadas Cinotécnicas, ninguém… - Não é á toa que
eles são os IMPUNES. Já ouvi da boca de algum deputado que a verba orçamentada
este ano para combate aos incêndios era de 60 milhões de euros, pois bem, nesta
altura já devem estar bem distribuídos, estamos no fim do verão. Para o ano há
mais, ainda existem por aí há umas arvorezitas…
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