Porquê?

Corremos porque não temos asas para voar...

Citação de Mark Rowlands, filósofo e escritor, a propósito da corrida em si...


Serra D'Arga
“Às vezes penso que que a corrida é um local para onde canalizo a minha História. A corrida é o local onde me posiciono, aos ombros dos gigantes- ou melhor, onde corro, dentro do turbilhão de pensadores mais velhos e melhores do que eu -, um local onde as coisas que eu já li, e pelos vistos esqueci, as coisas que há muito estão enterradas, os anos com trivialidades e uma vida de trivialidades, mais uma vez, tiveram o seu momento no palco da consciência, pavoneando-se amuadas, repisando: porque te esqueceste de nós? Neste palco onde entram e saem, mudando tudo ou nada, eu não tenho nada a dizer. A corrida é uma ocasião em que eu recordo. E mais importante, não é uma ocasião em que me lembro das coisas dos outros, mas de coisas que em tempos, há muito tempo, eu soube, mas as quais fui forçado a esquecer no processo de crescimento e na minha formação de adulto. Eu já sabia disto, mas não tinha consciência; isto acontece com toda a gente. A corrida é um local para recordar. É nesse local que encontramos o significado da corrida. As ideias que eu julgava ter deixado para trás, na poeira dos quilómetros percorridos, insistem em reaparecer com novas formas. Mas, nesta corrida, há muitos becos sem saída, não há atalhos. Por vezes, até as estradas que vão ter a algum lado tiveram de ser percorridas mais do que uma vez, vezes sem conta, até eu perceber aonde me levavam. No fim, a corrida acaba por nos levar sempre de volta a casa, de volta ao início. Mas, por vezes, se corrermos uma distância suficientemente longa, essa casa ter-se-á transformado.”

-Mark Rowlands, filósofo e escritor em “Correr com a matilha”.

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