Travessia de linha de água com pedras muito escorregadias. Bater com as costelas nestas arestas não é opção... |
Mais uma página de aprendizagem. Provas de nível de
dificuldade superior como esta não são compatíveis com facilitismos
redundantes. Esta prova tem um dos percursos mais bonitos que já percorremos, abundantemente
arborizado e paisagens lindíssimas sobre os vales e as aldeias, os pequenos
regatos, que atravessam o trilho sempre que baixávamos um pouco a cota de
altitude, davam uma ajuda para refrescar corpos super-aquecidos como os nossos.
A travessia das pequenas aldeias permite um vislumbre daquilo que foi a vida
dura destas gentes quando ainda não se falava de turismo e a tipicidade das
construções é deveras interessante. Para nós foi um verdadeiro prazer correr
estes trilhos propostos pelo Clube de Montanha da Lousã.
Momento para minimizar os estragos provocados pelo extremo calor. |
Porém, os 38 Cº que se abateram sobre a serra não facilitaram
a vida a ninguém e ao fim de 22,5 km de sobe e desce pela serra, dei-me por
vencido. Com eminentes problemas musculares e bastante extenuado, decidi não
enfrentar as duas subidas que ainda faltavam até atingir a parte mais “fácil”
do percurso. Foi a minha primeira derrota por manifesta incapacidade física e
deixou um certo desconforto, mas sei que foi uma luta até ao limite, praticamente
já não conseguia subir aqueles degraus depois da saída do Candal. Fiquei com a
noção exacta dos problemas que levaram a este desfecho e tenho a certeza que
vamos corrigir. Separados logo na fase inicial por dificuldades derivadas de
uma lesão recente do Miguel (pensei que ele iria voltar para trás) perdemos o contacto. Estavam-me, no entanto, reservadas duas surpresas agradáveis, a primeira foi a passagem no
Talasnal (aldeia mítica para nós) e a segunda foi que ainda durante a minha
permanência no abastecimento vejo surgir o Miguel nas escadas que que conduziam
ao largo onde eu estava. A alegria que extravasei deve ter sido contagiante
para toda aquela gente que ali se encontrava. Afinal o Miguel tinha
ultrapassado as dificuldades e chegara ali quase ao mesmo tempo do que eu. Mais
uma boa recordação que marca ainda mais (se é que é possível) de forma
indelével a nossa ligação a esta aldeia.
Enquanto tentava digerir a minha desistência, surgiu um
casal de atletas que de forma altruísta partilhou comigo um pequeno frasco que
tinha bálsamo (imagine-se) para cavalos, posso dizer-lhes que para além do
agradável cheiro a cânfora minimizou bastante as dores na minha “completamente
destruída” perna esquerda. O André, simpático membro da organização, levou-nos
de regresso á Lousã no seu próprio carro proporcionando-nos uma condução pelas
curvas apertadas da serra que não ficaria nada mal numa etapa do Rally de
Portugal e que por momentos me fez pensar se não teria sido mais seguro tentar
prosseguir pelos próprios meios nem que fosse a rastejar.
Como temos mau perder, está já mentalmente marcada a
presença na edição de 2016 e um regresso a Lousã o mais depressa possível, quem
sabe se ainda este ano, assim consigamos resolver os aspectos que nos são
desfavoráveis. Falta de tempo para treinos de qualidade, conhecimento de local
que os proporcione e estadia prévia no local da prova, para evitar a deslocação
de cerca de 200 km no final de um dia de trabalho e praticamente uma directa no
corpo.
Até à próxima Serra da Lousã.
Sem comentários:
Enviar um comentário