Acordei cedo e rumei á Montaria.
Esta pequena aldeia, situada no fundo da serra d’Arga, aninhada nas enormes
formações graníticas da periferia da serra, constitui-se, desde há muito, como
meu santuário de corrida. As provas em que aqui participei, os imensos treinos
também, deixaram muitas e excelentes recordações. Esta ligação antiga,
estabeleceu um cordão umbilical em que os sentimentos fluem perfeitamente.
Tomar o café matinal no humilde
tasquinho da aldeia, ser cumprimentado pelas idosas e afáveis camponesas que
iniciam a sua jornada de trabalho, dar início á subida rodeado de uma floresta
absolutamente verdejante, sob o trinado das variadas aves residentes, é uma
magia que me conforta imenso.
A viagem, desde o Porto, decorreu
sempre debaixo de um nevoeiro cerrado, por isso já tinha antecipado o cenário
para esta manhã. Não me enganara, a neblina e o sol encontravam-se em luta pela
supremacia, a temperatura que era cerca de nove graus, permitia ver as pequenas
nuvens de vapor exaladas pelas narinas do gado que saía das cortes em direção
aos campos. Os “bons-dias” saíam naturalmente, gentes humildes e francas cujo
hábito de saudar não se faz rogado mesmo perante estranhos.
Decorreram talvez três semanas
sobre a última vez que aqui estive, a principal diferença reside no facto de
que a água corre abundantemente pela serra. De resto esta natureza livre
permanece como eu a conheço, a beleza da paisagem, essa, muda com com o clima.
Hoje o nevoeiro cerrado em fuga para o mar, rastos de neblina espalhados pelo
vale, sinais da luta perdida contra o sol radioso, e um manto impenetrável de
nevoeiro sobre todo o vale do rio Lima, pintavam a paisagem como uma aguarela
de traços indefinidos.
Por vezes dou por mim a pensar como ainda tenho a coragem e a motivação para correr serra acima, como ainda tenho saúde para o fazer e para poder apreciar estes momentos de plena harmonia com a natureza. Sou de facto um previligiado, um grande previligiado…
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