Porquê?

Corremos porque não temos asas para voar...

A corrida como filosofia de vida?

Durante um treino nas serras de Valongo.
O nosso local de eleição para preparação de provas de trail.
Levantar de madrugada, ignorando a chuva ou o frio intenso, correr a distância planificada ou o tempo programado depois de um dia de trabalho são obstáculos menores perante o objectivo de realizar a sessão diária. O que é que nos empurra para esta actividade? Que motivações nos impulsionam a começar ou a acabar o dia devorando quilómetros de forma perfeitamente altruísta? Seremos nós, os corredores, uns solitários, uns incompreendidos, uns loucos? Como outras facetas da vida, a corrida terá a sua própria filosofia e cada um de nós a adapta aos seus costumes e formas de viver, seja do ponto de vista ideológico seja socialmente. Mas terá alguma base de sustentação a afirmação de que correr implica uma filosofia própria? Baseado na minha (curta) experiência, diria que tem, porque se traduz numa forma própria de entender e viver todas as facetas quotidianas, nesta filosofia de vida, entram em jogo muitos aspectos que são modificados de alguma maneira por esta actividade desportiva, a alimentação, o sono, a forma como passamos a “escutar” o corpo, a atitude perante as dificuldades diárias etc.

Noto de forma consciente uma mudança pessoal na minha forma de ver e enfrentar a vida desde que comecei a praticar a corrida com regularidade. É uma maneira de encontrar um tipo de paz interior e reflexão que melhorou claramente a minha visão da vida, conseguindo durante a corrida a libertação de pressões exteriores e um bem-estar que prevalece muito para lá desse momento.
Serra Valongo - treino com vista á participação
no trilho dos Abutres 2014.

Correr converteu-se agora em algo necessário, imprescindível nas nossas vidas, de tal forma que a ausência desta rotina pode chegar a afectar a disposição de forma pontual, não significando que se tornou uma obsessão, apenas uma sensação que poderia ocorrer com qualquer outra actividade, desportiva ou não, á qual dediquemos parte do nosso tempo diário. O truque consiste em desenvolver a corrida como um meio para encontrar um ponto de equilíbrio mental e corporal, sem pressões e desfrutando plenamente.
Falo muitas vezes da solidão das longas corridas e fico com a sensação de uma certa incompreensão sobre essa matéria, porém ela existe, um estado onde nos encontramos apenas com os nossos pensamentos, uma espécie de nirvana que faz de nós e do ambiente que nos rodeia apenas um. Esse estado pode alcançar-se quando se desfruta com a corrida, quando os quilómetros deixam de ser inimigos para passar a fazer parte da rotina. Pouco a pouco desenvolvemos a nossa filosofia pessoal, correr sem nenhuma meta, simplesmente correr por correr descobrindo novos caminhos interiores e pessoais que encontramos nessa solidão acolhedora.

Não posso considerar (ainda) que correr seja a minha filosofia de vida, mas que alterou filosoficamente muitos aspectos dela… é verdade.

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