Porquê?

Corremos porque não temos asas para voar...

Aniversário a todo o vapor... (Hard Trail Monte da Padela)

A semana tinha estado farrusca mas, este sábado em que comemoro o meu aniversário, amanheceu ensolarado e com um céu azul muito bonito. Decidira, já na semana anterior, marcar o dia com a participação no Trail Monte da Padela, prova que partilha comigo a sua data de nascimento. Embora seja já a quarta edição foi a nossa primeira vez neste evento. Desde logo comecei a aperceber-me que nos tínhamos metido em trabalhos, pois os poucos que alinharam na partida da distância dos 45 km aparentavam uma rotação muito diferente da nossa. Logo nos primeiros quilómetros os cerca de 150 atletas formaram um cordão que foi esticando gradualmente. Realmente aquilo era gente de outro campeonato.




primeiros km sempre a moer...
Na tentativa de não descolar muito fizemos os primeiros 10 km num ritmo bastante frenético. Eu só pensava que este frenesim era capaz de trazer problemas a curto prazo e ansiava pela primeira subida que obrigaria o ritmo a abrandar. Erro de análise, esta subida era um “must” da prova e foi tremendamente dura. Uma vez no ponto mais alto, tive de dar um minuto ou dois às pernas para elas se reencontrarem com o meu cérebro e ambos perceberem que era preciso continuar a correr. Aliás, correr foi também uma marca distintiva desta prova, pode-se dizer que ou estávamos a subir ou estávamos a correr, não existiam mais ritmos intermédios, mas não me queixo, acho que até gostei desta alquimia. Só não gostei muito foi dos troços de estrada empedrada que foram aparecendo aqui e ali, é onde menos gosto de correr. 

esta subida...
...foi dose!



Percorremos algumas zonas bem agradáveis junto a mosteiros antigos, mas tinham um pequeno problema, obrigavam a subir escadas, coisa que as minhas pobres pernas aguentavam muito a custo.
Valiam os incentivos do Miguel, quer chamando por mim quer simplesmente reatando o ritmo de corrida, eu já sabia que tinha de o seguir.




mantendo a energia minimamente
Preocupados com as barreiras horárias, bastante exigentes para nós, fomos percorrendo quilómetro atrás de quilómetro sem vacilar, o único tempo perdido era nos abastecimentos, e até não se pode considerar perdido, pois aquele pequeno hiato de tempo é fundamental para fornecer alguma coisa extra para o organismo transformar em energia, e a água… a água é claro, num dia com um sol inclemente, consumi água que nem um camelo. 






Algures entre o quilómetro 30 e 40 marginámos durante bastante tempo um pequeno riacho de águas completamente límpidas, enquanto saltava evitando as raízes que sobressaiam, levantando um pó negro, fininho, que se entranhava em mim, ia olhando de soslaio para aquela corrente murmurante que irradiava frescura, foi muito a contragosto que evitei deitar-me nela e ficar por ali algum tempo.
O trilho virou subitamente á esquerda e lá começou a subir em direcção ao alto. As pedras, quentes, eram uma exposição de lagartos que nitidamente ficaram contrariados com a intromissão de dois mamíferos com tão mau aspecto. Mas em boa verdade, aqui, o sentimento foi mútuo. O Miguel, que já tinha chegado ao cimo, deliciava-se agora observando a minha progressão, um sorriso de orelha a orelha denunciava o pensamento: “aguenta que eu também já aguentei…”. 



Posto de abastecimento dos 40 km. Situado na base de uma enorme formação granítica, esta nem me deixou apreciar devidamente os dois quartos de laranja que consumi. O calhau era omnipresente, não havia dúvidas que tínhamos de passar por ali. Enfim, era a última grande dificuldade a vencer por isso, fui-me a ele com toda a alma. Felizmente tinham instalado cordas, pois não seria um trambolhão bonito. Foi a segunda vez que o cérebro se perdeu das pernas, lá tive de lhes dar um tempito para se organizarem e ainda não estava refeito da “pancada” já o Miguel dizia: “Vamos o trilho é por aqui…” e eu lá fui. 




Depois de ter chegado aqui não iria morrer na praia. Os meus 58 tinham de ser respeitados pela Padela. Calmamente lá fui trotando atrás do Miguel, agora apenas a 4 km da meta, deliciava-me, vazando a água que levava nas garrafas pela cabeça abaixo. Já não havia hipótese de falhar.

Apesar dos poucos treinos, apesar do calor quase insuportável, apesar das exigentes barreiras horárias, apesar do desconhecimento do traçado, cumprimos com muito mérito esta prova e fizemos o nosso melhor tempo numa prova com esta quilometragem e desnível. Perfeito para um aniversariante auto apelidado de corredor precário. 




Cumprindo a praxe, telefonei para casa. De peito inchado pela façanha, ouvi a única coisa que queria ouvir: “Pronto homem, agora anda para casa com cuidado…”. Simples, mas mágicas, estas palavras trouxeram alguma emoção ao de cima. 

Miguel... Vamos mas é para casa degustar o assado e apagar as velas.


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