Foi com a mítica camisola do Trilho
dos Abutres envergada, que parti hoje para o meu treino nas serranias de
Valongo. Estas serras estão divididas pelo rio Ferreira que corre num vale
muito estreito e muito bonito.
Depois do cafezinho da praxe, coloquei
a mochila e constatei, com choque, que não tinha o relógio/GPS comigo. Tinha ficado
esquecido em casa. Ultrapassada a hesitação momentânea segui caminho. Não seria
este percalço a retirar-me o prazer de percorrer os trilhos de que tanto gosto.
O rio, hoje bastante caudaloso
devido às chuvas abundantes dos últimos dias, estava óptimo para rafting.
Corrente forte e muitos rápidos para ultrapassar, mas o meu desporto é a
corrida.
A paisagem estava linda, nuvens
muito baixas, a meio da serra, criavam contrastes naturais contra o verde
dominante do arvoredo. As cores de outono, o marulhar das águas, o gritar dos gaios
á minha passagem e o visionamento esporádico das garças e corvos-marinhos
enquadravam os trilhos encharcados pela agua que escorria dos pontos altos da
serra.
Completamente conectado á
natureza parei por um momento para observar um troço mais bonito do rio. Em
baixo, no mato das margens, surgiu uma ave minúscula que pousou num ramo
sobranceiro ao rio. Entoou um trinado encantador e partiu para outo lado.
Fiquei a pensar como estas vidas tão frágeis conseguem sobreviver num ambiente
tão agreste, aquecerem-se, alimentarem-se e procriarem. Não têm noção da
incerteza que está sempre presente nas suas vidas, e se calhar, isso é uma
enorme bênção.
As minhas sapatilhas estavam já
encharcadas e cheias de lama, bem como as pernas, mas seguia feliz pela energia
positiva que recolhia deste ambiente tão frio, mas ao mesmo tempo tão
revitalizante. Como sempre, muitas recordações. Umas mais positivas outras
menos, mas muito boas na generalidade.
O treino correu muito bem, estava
forte e fiz justiça á camisola que levava vestida. As pernas enlameadas também
pareciam saídas do cenário do Trilho dos Abutres. Mas não faltava água para as
lavar antes de me dirigir ao carro.
Já limpo e com roupa trocada
faltava apenas terminar com o café de saída, isso e comprar uma regueifa na
pastelaria. O caminho para casa faz-me reflectir no enorme previlégio que é poder
ainda usufruir destes momentos e de ter como certo que, no regresso a casa,
tenho uma esposa maravilhosa á minha espera onde posso colher o maior dos confortos
num abraço terno e prolongado que me faz sentir especial, que me faz sentir
necessário, que me faz sentir acolhido, que me faz… sentir tudo de bom que a
vida tem.
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