Porquê?

Corremos porque não temos asas para voar...

O banco...

Poiares. Vista da estrada para o Penedo Durão
Levantara-me cedo para fazer o exercício diário evitando as horas de calor. Invariavelmente, tudo começa com uma caminhada vigorosa entre Poiares e o alto da serra. Depois, já bem preparado para o esforço, inicia-se o passo de corrida em direcção ao Penedo Durão.

Creio que não haverá melhor forma de iniciar o dia, a frescura da manhã, o silêncio absoluto e uma estrada só para mim que vai rasgando o verde da paisagem, desdobrando-se suavemente na minha frente.

À minha frente, a estrada vai-se desenrolando suavemente,
revelando a paisagem
Depois de uma última subida, a chegada ao miradouro faz-se numa ligeira inclinação descendente. Aproveito para incrementar o ritmo numa tentativa de tirar uns segundos ao tempo de ontem.

Não consegui. O cansaço acumulado vai reduzindo o ritmo. Ponho o cronómetro em pausa e caminho um pouco pelo largo de asfalto do miradouro, respirando profundamente para recuperar do esforço. Os passos aproximam-me inevitavelmente da falha rochosa que nos possibilita uma visão privilegiada da paisagem.

Aquele banco inerte e calado, captou a minha atenção. Provável testemunha de abraços, sorrisos e conversas acaloradas, também de pessoas caladas, parecia triste por estar só. Não sei se por apelo dele se pelo das minhas pernas cansadas, aceitei o convite implícito.

Não sei se por apelo dele se pelo das minhas pernas cansadas,
aceitei o convite implícito.
Descontraidamente sentado, deito a cabeça para trás e fecho os olhos, sentindo à vez, a brisa fresca e os raios de sol que atravessam a folhagem, o cheiro da mata...

Ao longe, o azul do rio sobrepõe-se ao verde das ramagens e o horizonte encontra-se indefinido por uma neblina que adoça as formas das montanhas. Os abutres, figuras incontornáveis deste local, desenham espirais sobre o vale, em voos de liberdade, da mesma liberdade que eu estou a sentir.

Ao longe, o azul do rio sobrepõe-se ao verde das ramagens
 e o horizonte encontra-se indefinido por uma neblina
 que adoça as formas das montanhas
O dia está lindo, o que estraga tudo é que em breve terei de voltar a um estilo de vida que deixa do lado de fora todo este "sentir". A rotina de circunstâncias diárias que nos levam apressados de um lado para o outro, a vontade desenfreada de repetir a mesma coisa todos os dias no contexto social em que vivemos, vai regressar.

Sinto-me como um vampiro espiritual, absorvendo toda a beleza, toda a paz, toda a alegria que este momento me proporciona. Levanto-me, esperando que estes momentos mágicos continuem por algum tempo no meu coração.

Está no hora de regressar a Poiares e fazer a segunda parte do exercício.

O banco, esse... ficou sozinho, aguardando novo cliente.



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