Porquê?

Corremos porque não temos asas para voar...

Baterias carregadas...



Cheguei á pequena aldeia de Montaria eram 09:30 da manhã. Muito tarde, mas não era suposto ter vindo para aqui. Uma decisão de última hora, por impulso, trouxe-me para cá. Deixei o carro debaixo do enorme castanheiro que já o acolheu noutras jornadas e senti uma brisa fresca nas costas, olhei para a parede granítica que fica mesmo junto da aldeia, uma neblina cerrada fechava o cume, se calhar lá em cima faria frio, pensei.

“Antes de mais vou tomar um café”. Já tinha comido uma banana em casa e iria adquirir qualquer coisa para colocar na bolsa caso precisasse de ingerir algum alimento. Perguntava a mim mesmo se teria “pernas” para vencer tamanha dificuldade e perante a incerteza delineei estratégias e mais estratégias, a vencedora foi: “se ficar sem força” nesse ponto começo a descer de imediato e o treino será assim.

Esta neblina, que já conheço de outras passagens minhas por esta região, dá sempre um toque de beleza adicional á serra e á paisagem no seu todo. Em luta permanente para não ser escorraçada para o mar pelo sol forte da manhã, acaba por perder a batalha delineando, no entretanto, “aguarelas” de paisagem que são realmente arrebatadoras.

Foi neste ambiente que dei início á subida, não estava mal e comecei a ganhar confiança quando após uma curva fechada para a direita a inclinação fica mais evidente. Perante esta dificuldade e já com o sol a ameaçar um escaldão, não hesitei e percebi nesse momento, que havia reservas de força que eu desconhecia. E assim, num silêncio absoluto, apenas “emoldurado” pelo trinar das aves que habitavam, as cada vez menos presentes, árvores junto á estrada, fui debitando passos e pensamentos, usufruindo de um momento tão tranquilizador como esteticamente belo.

Em determinada altura encontrei um homem que juntava uns paus para colocar num pequeno trator parado na berma. “Bom dia!” exclamei. A resposta veio no mesmo tom e acrescentou: “Força, já está quase…”.

A neblina estava a ser empurrada para o Atlântico...

- Não, não está! – retorqui, ainda falta um bocado… -Depende de onde é a meta, respondeu. - É lá no alto afirmei, agora que já sentia que me era possível. Então, fez questão de me explicar: - Olhe, hoje está esta neblina, mas isto tem uma paisagem muito bonita, vê-se uma grande extensão do vale do rio Lima até Viana do Castelo, mas hoje não sei…  -Sim, eu conheço bem, mas mesmo assim com neblina gosto igual. -Bem quem gosta, gosta. Era isso, concordei com ele e com votos recíprocos de bom fim de semana despedimo-nos. Gosto da familiaridade destas pessoas e isso colocou-me um sorriso no rosto.

Segui estrada acima, hoje nem carros nem ciclistas, ninguém a subir, ninguém a descer, uma pista apenas para mim. Bem, para mim e para vários lagartos que tiveram de “ceder” a passagem á medida que fui avançando. Naquele sossego aproveitavam para se aquecer no meio do alcatrão e recuperar alguma da energia perdida durante a noite.

Hoje, a estrada, era só para mim. Uma espécie de pista privativa...

Finalmente chego ao planalto, tenho de ir até a torre de vigia, a meta é lá. Aproveitarei também para encher a garrafa de água de meio litro que estava já quase vazia e depois desço fazendo um total de perto de 14 quilómetros.

Afinal, não estava frio nenhum conforme a minha suspeita inicial, apesar de estar a cerca de oitocentos metros de altitude, o clima estava excelente, ausência de vento, sol e temperatura amenas. Só uma coisa estragou esta perfeição, quando abri a torneira estava seca. Não estava a contar com isso. Bom, não falta água pelo caminho. Não a poderei beber mas posso utilizá-la para me refrescar.

...cheguei ao planalto e o tempo está óptimo.

Fiz a descida aproveitando ao máximo tudo o que esta serra me pode oferecer para recarregar as baterias para mais uma semana de trabalho. Esta serra, não apenas neste pequeno percurso mas em todos os outros que oferece, numa alternância de ambientes e paisagens tão belas, é de facto, um pequeno pedaço de paraíso.

Os garranos "ilustram" de liberdade a paisagem da serra.

Voltei a encontrar o homem, agora com o atrelado carregado de pequenos gravetos, para acender o lume, certamente. -Afinal voltámos a encontrar-nos! Ambos soltamos uma gargalhada…

Mudança de roupa, um cafezinho para colocar um ponto final nesta manhã tão excelente e o regresso a casa, muito mais completo de quando aqui cheguei.

 




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