Porquê?

Corremos porque não temos asas para voar...

Keep moving...


A manhã, sem sol, mas abafada e com o ar saturado de humidade dava ao perfil da serra um ar carregado e, do meu ponto de observação, parecia ainda mais alta. Há quanto tempo não fazia a travessia da ponte em Couce para subir até ao cimo da serra. Um desejo enorme de me testar sobreveio a este pensamento.

O aquecimento estava feito, deixei para trás a sinuosa estrada de paralelo que conduz á aldeia e atravessava agora a ponte sobre as águas do rio Ferreira. O ar quente e húmido fazia-me transpirar bastante mas levava comigo o habitual reservatório de de 0,6 litros para me ir hidratando. 

Depois da ponte, o trilho endureceu de imediato, mas o mais difícil estava ainda para vir quando na bifurcação começasse a subida até ao alto da serra. Um terreno completamente retorcido pejado de pedra partida solta, algumas com uma dimensão que requeria que saltasse para evitar tropeçar nelas, inclinação bastante forte, levou o ritmo cardíaco rápidamente para o limite. A cada momento de caminhada para me recompor um pouco, sentia que a transpiração aumentava substancialmente. 

Foi num desses momentos que me apercebi da beleza do ambiente, apenas se ouvia o marulhar das águas do rio e o cantar dos pássaros, entre eles um com um piar realmente exótico. Foi um momento de grande compensação pessoal. Como era bom estar de volta a estes trilhos. 

A terra avermelhada do trilho, indicadora da presença de ferro, contrastava com o verde das árvores e as folhas largas dos eucaliptos novos que bordejavam o trilho, estavam saturadas de gotas de água das últimas chuvas. De tempos a tempos aproveitava o facto para os agitar e refrescar-me com o chuveiro fresco que caia de cima. 

Num cruzamento de trilhos encontrei-me com mais três indivíduos que também subiam mas fazendo uma rota mais curta e mais íngreme em que apenas é possível caminhar. Após as saudações habituais segui o meu percurso que apesar de tudo permitia correr. Voltámos encontrar-nos mais á frente, em novo entroncamento do trilho, continuava á frente deles uns cinquenta metros e achei que me iam fazer companhia na subida curta mas terrível que se desenhava mesmo á minha frente. Foi quando recebi um telefonema de casa. A pausa fez com que passassem por mim e quando guardei o telemóvel tinham terminado a subida e começado a correr. Fiquei sozinho, mas também já faltava muito pouco para o meu ponto de retorno. 

No alto, parei um pouco para observar. Só se ouvia o ronco surdo de um avião, os três que me tinham passado continuaram o trilho para outra área da serra e podia vê-los a uma distância já considerável. 

O meu ponto de retorno neste local, foi desde sempre, um pequeno largo, perfeitamente plano e algo afastado do trilho que permite ver a paisagem em 360º. Fui lá para cumprir o protocolo. Estava pejado de umas pequenas flores silvestres lindíssimas. Fico sempre admirado como nestes sítios tão desoladoramente isolados como o alto de uma serra pode ser, a natureza me surpreende com estes eventos de uma beleza tão frágil e subtil. 

A descida foi beneficiada por essa maravilhosa característica da física que se chama força da gravidade. Não tinha que arrastar o meu peso, era só acompanhar e o ritmo cardíaco estava agora perfeitamente tranquilo. Foi apenas apreciar e tirar partido de uma natureza tão bonita como a que encontrei hoje nas serras de Valongo. 

Convém admitir que foram 12 km que me deixaram todo partido, mas é isso que após a recuperação, me deixará mais forte. 

Foi muito bom recordar outras rotinas e saber que ainda sou capaz de trepar aquelas inclinações em passo de corrida.

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