Porquê?

Corremos porque não temos asas para voar...

UTAM 2018 - Uma corrida ligeiramente fora de foco...


Tudo começou uns dias depois da Serra d’Arga, onde a prova efectuada pedia, ou melhor, exigia continuidade. O entusiasmo levou-nos a olhar para o calendário de provas onde brilhava intensamente o Ultra Trail Amigos da Montanha. Os quatro Pontos ITRA atribuídos foram a força motivadora para fazer a inscrição nesta prova de 70 km com 3030m D+.

Em 2013 já tínhamos feito esta prova e baseados nessa experiência concluímos que era exequível. No decorrer do mês seguinte, o único até à prova, trabalhámos bem se levarmos em consideração as nossas limitações familiares e profissionais. Fizemos várias vezes o percurso integral do trail longo da Serra d’Arga para além de outros treinos intermédios na serra de Santa Justa e alguns quilómetros de estrada. Na semana anterior à prova uma constipação veio acrescentar uma fonte extra de stress, mas consegui reunir as condições mínimas para poder alinhar na partida.

Saída da zona histórica de Barcelos e travessia da ponte... 
Barcelos, 7 horas da manhã. Iluminados pelo fogo de artificio e animados pela música que soava alto e bom som nas colunas, partimos para esta aventura.  Os participantes eram poucos e pertenciam maioritariamente a equipas que disputam o campeonato nacional de ultra trail. Seguir o ritmo destes cavalheiros nos primeiros quilómetros foi infernal, depois, lentamente desapareceram no meio das árvores. Para trás ficaram meia dúzia de aventureiros, entre os quais nós os dois. Após recuperar do ritmo imposto nos primeiros quilómetros colocámos a nossa própria cadência, a que julgámos mais adequada para percorrer os 70 km em causa.

Ainda estávamos com boas pilhas.
À medida que fomos ultrapassando as dificuldades começamos a perceber que as características desta prova eram bastante diversas daquilo para que tínhamos treinado. A maior parte das subidas não eram para correr ou sequer para andar, eram mais para escalar… Não muito longas, mas muito íngremes.

Para cima se faz favor,
ainda que custe...
...tem mesmo de ser.
Bandeira após bandeira, passo após passo...
Estávamos a atravessar o melhor momento,
força e boa disposição abundavam.
A primeira barreira horária aos 26 km foi cumprida no horário imposto pela organização, mas mesmo “in-extremis”. Em consequência disso não tivemos tempo para uma pausa, muito pior do que isso, não conseguimos o reforço alimentar que se impunha nestas circunstâncias. O esforço para cumprir foi tremendo e compreendi que o corpo estava a ficar em défice. As quatro embalagens de gel que levava há muito que tinham marchado e umas barras pequeninas que tinha para complementar revelaram-se intragáveis em corrida e após algumas tentativas frustradas de ingestão acabei por as deitar fora.

Mensagem lá para casa.
Aproveitar para refrescar e tirar o sal da cara.
O Miguel começou a acusar o cansaço e após alguma insistência despediu-se da prova perto do abastecimento líquidos dos 35 km. Eu, cansado, mas com vontade de continuar comecei a fazer contas sobre a possibilidade de chegar à barreira horária dos 48 km, tinha cerca de 3 horas para fazer algo parecido com 15 km, umas quantas subidas extraordinariamente difíceis pela frente e algum terreno mais ou menos plano junto ao rio Neiva. Deitei um olhar ao Miguel que seguia já distante do trilho rumo ao abandono, esta imagem falou mais alto. Perante as minhas dúvidas e incertezas e com o meu parceiro de aventura fora, desisti também. Juntos somos mais fortes, mesmo na fraqueza.

Sem dúvida que esta prova nos surpreendeu pela diferença em relação ao que estamos habituados a treinar, mas em conversa sobre o tema concluímos que gostámos bastante e temos vontade de pedir a desforra. Agora já sabemos o que nos espera.

Resumindo, esta foi uma prova com características que não fomos capazes de absorver perfeitamente Digamos que foi uma prova ligeiramente fora de foco…

Sra. da Guia foi a nossa desgraça.
Ainda assim destaco um ponto muito positivo, acabámos por correr, tanto em desnível como em distância, o mesmo que na prova da Serra d'Arga mas tirámos quase 50 minutos ao tempo de então, por isso não fico assim muito descontente. Agora precisamos de digerir o trauma da desistência, quem sabe se será já com o Sicó em Fevereiro...

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