Porquê?

Corremos porque não temos asas para voar...

Tantas saudades...

Cumprindo mais um fim de semana de confinamento, e também induzido pelo assobiar do vento no exterior, sentei-me no sofá logo após o almoço. Em pouco tempo, embalado pelo ruído da chuva a bater nos vidros, encostei a cabeça para trás. Com os olhos semicerrados foram desfilando recordações de contraste com esta (sobre)vivência que agora somos obrigados a suportar. 

… percorria uma cota alta da floresta autóctone da serra da Lousã, o Miguel seguia uma centena de metros á minha frente. A floresta, envolta numa leve neblina libertava um cheiro fresco que era um autêntico balsamo para os sentidos. Um tronco apodrecido pelo tempo atravessava o trilho, carregado de líquenes e fetos, mais parecia um elemento decorativo naquele enquadramento de floresta tão bem preservada. O ruído dos nossos passos era abafado por uma terra preta, húmida e fofa que se adivinhava perene e saudável. Percebi que seguia completamente inebriado pela beleza envolvente. Mais á frente, havíamos de atravessar várias aldeias de xisto preservadas, cuja beleza e tipicidade são realmente tocantes. O cheirinho das uvas americanas maduras inunda as ruas, acolhendo-nos enquanto corríamos descendo a escadaria antiga.

Assim, esses quilómetros transformaram-se em momentos. O vento lá fora traz-me as memórias e os cheiros que agora recordo. Aquelas aldeias incrustadas na encosta da serra possuem uma magia própria, uma simplicidade verdadeira que convida á partilha, á família, a ligações profundas entre o homem e a natureza e onde a vida pode acontecer genuinamente, no respeito do simples e do essencial, valores tão necessários e que nos estão vedados nos dias violentos que hoje vivemos.

Um cheirinho a café, trazido pela esposa, trouxe-me á realidade do novo normal.

Tantas saudades desses tempos antigos...




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